sexta-feira, 23 de setembro de 2016

PRIMAVERA


Meio que de mansinho, um broto aqui, outro acolá,
um vento que sopra,
um verde, um rosa, um vermelho, um fúcsia, um alaranjado
e outros tons e semitons
ton sur ton sem fim
vão colorindo a paisagem
a vida
a alma da gente
um quê de mudança no ar
que se instala em setembro:
é PRIMAVERA!


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A FUNÇÃO DO BELO



Para a ensaísta norte-americana Camille Paglia, que esteve no Brasil à convite do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, a arte é um portal que nos permite escapar do frenético mundo tecnológico e ativar a capacidade de contemplar o sublime e de ser tocado por ele

por Camille Paglia

Feliz de quem já experimentou o êxtase provocado por uma obra de arte. Nesse raro momento, nos sentimos inteiros. Preenchidos e permeáveis. Porém, o mundo instantâneo e veloz em que vivemos está minando nossa capacidade de parar, silenciar e apreciar o belo. Quem emite esse alerta é a ensaísta e crítica cultural norte-americana Camille Paglia, que no mês de setembro esteve em São Paulo para participar do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. 

Além de enriquecerem o campo estético, as criações artísticas, segundo a estudiosa – que é ateia, mas considera indispensável o conhecimento das grandes tradições espirituais para a boa formação do indivíduo –, suprem a fome do espírito. “A arte é transcendental porque nos toca e nos transforma”, ela entende. E vai além: “A atitude contemplativa acalma o cérebro e nos conecta a partes mais profundas do nosso ser. Quando nos abrimos para essa possibilidade, recebemos uma energia tremenda, como ventos da natureza que nos expandem e nos levam a compartilhar experiências, unindo a humanidade”. 

O desafio, ela reconhece, está em abrir espaço para a contemplação no cotidiano dos grandes centros urbanos, “asfixiado” pelo excesso de estímulos. Mas, por mais difícil que seja modificar hábitos, esse respiro é fundamental e urgente, ela frisa. Em seu novo livro, Imagens Cintilantes – Uma Viagem Através da Arte desde o Egito a Star Wars (ed. Apicuri), a intelectual resgata a aura de encantamento das produções simbólicas através dos séculos. Como uma monitora cheia de entusiasmo, ela promove um passeio povoado de figuras inspiradoras: pinturas, esculturas, estilos arquitetônicos, performances, artes digitais e cinema. Tamanho empenho em se fazer envolvente se deve, sobretudo, à preocupação suscitada pelo comportamento dos mais novos. “Os jovens concederam sua lealdade à tecnologia, simbolizada por seus iPhones com seus múltiplos aplicativos e funções”, ela critica, enxergando nessa “adoração” digital da energia criativa e da engenhosidade, como também um estreitamento da compreensão dos fenômenos que nos cercam.

Enquanto milhares de cabeças pendem sobre telas portáteis, as obras de arte são um convite para que a subjetividade dos artistas desperte a nossa própria sensibilidade. Sem esse recurso, fica difícil refletir sobre as grandes questões da existência: os sentidos da vida e da morte, a verdadeira liberdade, a qualidade dos relacionamentos humanos etc. Itens básicos de sobrevivência em tempos de pouca elaboração interna e muitas demandas externas. Produzir, cumprir, aparentar, ter e mais ter. Uma “corrida maluca”, nas palavras da intelectual, que desemboca num grande vazio, segundo ela, gerador de angústia, nervosismo e infelicidade. 

Com tanta distração ao redor, Camille não recomenda outro remédio senão olhar para dentro e ali encontrar respostas afinadas às sutilezas da alma. Tendo a arte como conselheira, claro.

Uma das intelectuais mais influentes da atualidade, Camille Paglia nasceu em 1947, em Endicott, no estado de Nova York, Estados Unidos. É ph.D. em língua inglesa pela Universidade de Yale. Desde 1984, é professora de humanidades e estudos midiáticos na Universidade de Artes da Filadélfia. Principal teórica do pós-feminismo (vertente contrária à mulher profissional que renega a importância da maternidade), é conhecida pelas opiniões contundentes e polêmicas acerca da cultura e do comportamento contemporâneos. Publicou diversos livros, entre eles Personas Sexuais e Sexo, Arte e Cultura Americana, ambos pela Companhia das Letras.
facebook.com/CamillePagliaAuthor.
Texto retirado do face da Bons Fluidos(revista)

sábado, 5 de dezembro de 2015

TESTAMENTO VITAL por DÉA JANUZZI


O filho arrumou a mochila, tomou banho, aprontou-se e se despediu da mãe para viajar. Antes de sair, a mãe deixou o computador, olhou a camisa que o filho acabara de vestir e observou: “Você vai viajar com essa camisa toda amarrotada?” Ele respondeu que sim. E que a mãe, ao se levantar de manhã, em vez de preparar o café, arrumar a casa, passar roupa ou pensar no almoço, vai escrever crônicas.
Desculpe-me, filho, mas antes de você nascer eu já era jornalista e escritora. Não aprendi serviços domésticos nem fiz curso de culinária, corte e costura. Nunca prometi a você que seria mãe, profissional e dona de casa. Desculpe-me, filho, mas você vai ter que passar as próprias camisas, porque nem ensinar essa tarefa eu sei: é uma missão quase impossível para uma mãe que começou a trabalhar cedo e batalhou para dar a você uma educação que pode parecer estranha agora. Mas que no futuro fará diferença.
Hoje, filho, sou essa mulher partida, dividida, que acorda e vai escrever crônicas em vez de preparar bolos. Desculpe-me, mas desde o colégio eu gostava de escrever, me emocionava mais com palavras do que com panelas. Nunca prometi viver entre quatro paredes preparando pratos saborosos, mas você herdou o caderno de receitas de sua avó para que pudesse fazer a própria alquimia. Viu como foi bom? Hoje você cozinha tão bem! Prefiro a sua comida à minha. Apresentei para você, filho, as minhas fontes preciosas além da cozinha de sua avó. A culinária viva, do dr. Alberto Peribanez, de alimentos verdes e vitalizantes. As feiras de orgânicos e os restaurantes de comida natural, as mil e uma ervas, a construção sustentável, as qualidades do bambu na casa que um dia você vai construir. Apresentei a você o monge Ryotan Tokuda, a comida dos mosteiros zen budistas, a meditação, a imersão na consciência e o Calendário Maia de 28 dias. Apresentei a você, filho, o mundo do futuro.
Ajudei você a conquistar um lugar no século XXI, onde os homens podem rir e chorar, cozinhar, cuidar dos filhos, ser parceiros das mulheres. Não tive tempo de deixar a casa tão limpa, mas ensinei a você a aceitar as diferenças, a respeitar as mulheres, os negros, os índios, o planeta onde mora. Ensinei a você os caminhos da espiritualidade e do sagrado que há em cada um de nós. Desculpe-me, filho, se não eduquei você para um mundo que ainda não existe, mas que está sendo construído pelos parceiros de uma nova jornada. Nunca prometi dar a você a lua, mas o ensinei a ter olhos para vê-la e admirá-la, para vasculhar o universo e conhecer os astros e as constelações. Não se preocupe quando você atravessar a rua e as pessoas estranharem os seus olhos em busca do céu, entre os prédios. Desculpe-me se ensinei a você o mais difícil dos caminhos – o da alma.
Desculpe-me se o prendi nas correntes da poesia e da emoção. Se joguei você na arena da esperança e não da competitividade. Se falei para você sobre cachoeira, mar, permacultura e ecovilas. Se fiz você sonhar com um quintal de ervas perfumadas e comestíveis, ou em fazer o próprio pão. Se apresentei a você o cajado da sabedoria. Se você foi com Manche Maquehu, um índio mapuche, conhecer o Chile e o segredo dos incas. Desculpe-me por gostar de vinho e de flores, de incenso e amizade. De acupuntura e massagem. Desculpe-me por ser liberal em excesso, de não colocar você em uma fôrma de bolo. Desculpe-me se eu desandei, se o bolo embolou.
Desculpe-me se não tenho manual de instrução para educar. Se não tenho limites nem verdades absolutas. Nunca prometi a você o paraíso, porque também tenho meus desertos. Todos os dias, tenho que retirar os galhos secos do meu ser, a aridez da vida neste planeta. Mas é escrevendo que denuncio a devastação interior das pessoas, a falta de cuidado com o outro.
Deixo de herança para você o planeta, o barulho do vento e do mar, as florestas ainda não devastadas, a gratuidade da natureza, as nuvens e o cheiro de mato que você tanto gosta. Deixo-lhe uma vida semeada, cultivada com frutos e flores, girassóis e cactus, abelhas e mel, rosas e espinhos, naufrágios e tempestades, mas também a calmaria. Juro para você, filho: estarei sempre ao alcance do seu coração, onde quer que eu esteja, para que a gente possa conversar como sempre, pois somos cúmplices, amigos.
Assinado: Mãe Terra, que escreve a quatro mãos com a mãe terrena. 

domingo, 29 de novembro de 2015

ETERNA MAGIA

                                          
   Estou P A S S A D A!
   Com a tarde livre, aproveitei para dar umas voltinhas nos espaços comerciais, ávida pelas belezas e novidades rotineiras e as tão sonhadas do final de ano. E se o tempo é natalino, pisca-piscas tendem a fazer festa no meu coração. Amo Natal e tudo que ele representa. Lá fui eu em cima de um salto alto enorme e fazendo pose. Mas, caí do cavalo ou do salto, como queira! Eu nunca vi tanto desânimo, tanta falta de graça, tanto desencanto e tamanha ausência de beleza. O que aconteceu com a eterna magia?
   Tudo bem que pertenço a outro tempo. Tempo em que se preparava com quarenta dias de antecedência as festividades natalinas. A casa ganhava novos ares, sentidos, encantos. Era o tempo das especiarias que nos remetiam ao oriente, dos doces cristalizados ou em calda, das carnes embebidas em banha de porco, das mangueiras pingando mangas docinhas, das goiabeiras... da feitura dos biscoitos, do tempo de montar presépio; tempo de recolher da natureza elementos que nos ajudassem a compor a beleza do momento maior; tempo de sonhar com a tão aguardada boneca que Papai Noel certamente deixaria na janela; tempo da reunião familiar  em torno da cama de casal onde pais e filhos se  ajoelhavam rezando o terço e pedindo paz e bênçãos para a humanidade, tempo de muita alegria. Tempo dos sentidos e sentimentos aguçados, temperados, renovados.
   Por essas e outras fiquei a pensar inconsolada: o que fizeram com a figura central de tudo isso cujo nome é JESUS CRISTO, praticamente sumido ou, quando muito, desbotado nas cores? Meu coração se partiu de vez...
   Lembrei-me dos versos de Maria Dinorah:   

Natal...
Os reis tão sós...
Os súditos tão sós...
O mundo tão só...
O universo tão só...
Que imensa solidão, meu Deus! 
   Andei. E por onde andei vi de um tudo – amontoados – mas, vi: do descaso na organização à banalização da exposição e nada de convicção de que estamos diante de “alguma” representação absolutamente especial para o mundo cristão e que pertence ao campo do sagrado.  E cá pra nós, até mesmo o profano carece de ritual, que dirá o sagrado...
   Aí alguém pode dizer: é a crise econômica mundial. E qual a relação Jesus Cristo X crise econômica mundial? Não sou tão simplória a ponto de não perceber os ditames da sociedade capitalista mas, a questão aqui é outra. Qual será mesmo o destino da humanidade desumanizada? O que acontecerá com a tal subjetividade humana? Dos valores inerentes ao humano? Da afetividade própria entre os humanos? Jesus Cristo, socorro! 

   Fui pra casa pensativa. 
  Decidi reativar os meus sentimentos mais fundos e acender as velas, os piscas, as lâmpadas. Decidi abrir os pacotes, caixas e sacos de embalagens e repaginar os enfeites, tirar o pó, rebrilhar a casa, os espaços e a alma. Decidi pedir ajuda aos anjos e arcanjos para a nova sinfonia a ser registrada em cartões natalinos, porque ninguém merece receber e-mails frios, digitalizados, quando se pode dedicar tempo à escrita de próprio punho a quem se ama. 
  Decidi que, no espaço que me cabe, desânimo não entra; crise, nem de idade é permitida.
  A palavra é verbo e o coração é minha lei.
 Que tenhamos todos um NATAL de LUZ, de CONSCIÊNCIA, de AÇÃO, de HUMANIZAÇÃO E AFETO.
 Nos preparemos pois para a chegada do MENINO DEUS.
  


   Texto de Heloisa Davino - dez/2015.

ADVENTO - AO ENCONTRO DO MENINO DEUS...


ADVENTO 

Para os cristãos, é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo, 
(do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a") é o primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o NATAL vivem 
o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz.


Aí fico pensando...
Uma coisa é o conceito, outra é a vivência. E qual será o nosso verso de fraternidade e paz para este mundo caótico que estamos vivendo ou mesmo assistindo distanciados?
Vamos acender a primeira vela neste domingo que anuncia a chegada do Menino Deus. Façamos pois nossas orações e, na sequência, hora de darmos o primeiro passo em direção à mudança que esperamos para um mundo melhor. 

Amém!


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

PALAVRA - QUAL É A SUA?



"A palavra é uma roupa que a gente veste
Uns gostam de palavras curtas.
Outros usam roupa em excesso.
Existem os que jogam palavra fora.
Pior são os que a usam em desalinho.
Alguns usam palavras raras.
Poucos ostentam palavras caras.
Tem quem nunca troca.
Tem quem usa a dos outros.
A maioria não sabe o que veste.
Alguns sabem e fingem que não.
E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.
Tem os que ajeitam bem com poucas peças.
Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.
Tem gente que estraga tudo que usa.
E você, com quais palavras você se despe? "
  
MOSÉ, Vivian in: Receita para lavar palavra suja - poemas escolhidos 2004. p. 22



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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ADÉLIA PRADO EM VERSO E PROSA


ADÉLIA PRADO 
"a vingança da poesia é ela ser maior que a gente"
é sempre uma alegria imensa ouvir essa grande poetisa.
Aproveite esse pequeno momento com Adélia.