Tempo, tempo, tempo... e precisamos aprender a falar com a própria voz. Esta é uma reflexão necessária que nos aponta MERLEU-PONTY. Vejamos:
“O que um pintor busca colocar num quadro não é o eu imediato, a nuance mesma do sentir, é seu estilo, ele precisa conquistá-lo sobre suas próprias tentativas, sobre o eu dado, não menos do que sobre a pintura dos outros ou sobre o mundo. Quanto tempo não leva, diz Malraux, até que um escritor tenha aprendido a falar com sua própria voz. Do mesmo modo, quanto tempo não leva até que o pintor – que não tem, como o historiador da pintura, a obra exposta diante de seus olhos, mas que a faz – reconheça, submersos em seus primeiros quadros, os traços daquilo que será, mas somente se ele não se enganar sobre si mesmo, sua obra feita... A bem dizer, não é nem nesses traços que ele discerne a si mesmo. O pintor é tão incapaz de ver seus quadros quanto o escritor de se ler. Essas telas pintadas, esses livros, tem com o horizonte e o fundo da própria vida deles uma semelhança demasiado imediata para que um e outro possam experimentar em todo o seu relevo o fenômeno da expressão. É preciso outros fluxos interiores para que a virtude das obras se manifeste suscitando nelas significações de que não eram capazes. Inclusive, é somente nelas que as significações são significações: para o escritor ou para o pintor, há apenas alusão de si a si, familiaridade com o ronronar pessoal pomposamente chamado monólogo interior, não menos enganosa que a que temos com nosso corpo ou, como dizia justamente Malraux em A condição humana [1993], que nossa voz “ouvida pela garganta”... O pintor deixa um rastro, mas, exceto quando se trata de obras já antigas e nas quais ele se diverte em reconhecer o que veio a ser depois, não gosta muito de olhá-lo: ele tem algo melhor em si mesmo; para ele, tudo está sempre no presente, o frágil acento de suas primeiras obras está eminentemente contido na linguagem de sua maturidade, como a geometria euclidiana está contida, a título de caso particular, numa geometria generalizada qualquer.”
(MAURICE MERLEU-PONTY, EM A PROSA DO MUNDO, P. 83)
Ps: Este texto foi postado primeiramente por Regina Rennó, no facebook.
(MAURICE MERLEU-PONTY, EM A PROSA DO MUNDO, P. 83)
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