Num dia como o de hoje - 14 de março, Dia da POESIA - é preciso dizer da importância da poesia em nossa vida. Há quem ache poesia pura bobagem, coisa de quem não tem o que fazer na vida ou que vive no mundo da lua. Será? Sempre que ouço algo assim, procuro lembrar a gênese da palavra poesia que nos chega dos gregos antigos POIESIS - a capacidade de produzir ou fazer alguma coisa, especialmente de forma criativa. E será que isso é pouco? Parece que quem se debruça diariamente na construção de um texto poético tem muita labuta pela frente. Não é tarefa pequena, exige dedicação, sentidos a postos, "olhar nítido como um girassol" como diz Alberto Caieiro, pesquisa, leitura de mundo e muitas outras leituras porque, um poeta traz em si todos os outros poetas do mundo, ele não está só. E é preciso trabalhar a palavra – em sua lavra riqueza de som, ritmo e significado – para encontrar a sempre atrevida vida, como nos lembra José de Nicola em seu poema Palavra.
Sei dizer que a Poesia é alimento de primeiríssima
necessidade. Não vivo sem. Fui apresentada a ela na infância e nunca mais a
abandonei. E quando digo poesia faço referência à poesia da vida e da palavra.
Impossível chegar à poesia da palavra passando “batido” na poesia da vida. Meu
pai me ensinou a olhar o mundo, mais que isso, me ensinou a contemplar o mundo.
Ora, contemplar exige silêncio interno, disponibilidade de tempo(ainda que isso
represente alguns segundos, para então cristalizar a noção de eternidade dentro
da gente); exige envolvimento, soltura do espírito, largueza de desejo. Assim
fui vivendo... cheia de pequenas eternidades.
O vento sempre me incomodou, na mesma medida, sempre me
encantou a sua capacidade de fazer os galhos das árvores dançarem; os musgos
acolhiam meus pés com a maciez de um veludo; as estrelas e seus mistérios na
imensa escuridão; as montanhas barrando a visão e instigando minha curiosidade do
para além de; a fruta colhida à mão e o gosto chegando aos sentidos sentada num
galho da árvore, porque é preciso ser parte da árvore e arvorar-se por inteira.
Experiências de vida marcadas pela poesia. E não demorou muito, senti na pele a
experiência da palavra. Se volto no tempo percebo a presença forte e definidora
dos poetas no alinhavo, na trama que a vida teria. Se por acaso a dúvida pairava em ou isto ou aquilo, a minha escolha caia
no último andar, porque metade de mim
é pavor de altura e a outra metade fascínio completo. Cecília Meireles é amiga
de infância, dessas que nunca mais se distanciam. Foi difícil entender que ser
feliz exige arte. Como assim? Fiquei com esse texto dentro de mim décadas
remoendo, remoendo até entender os caminhos construídos e os que ainda precisam
ser feitos. Se o desespero bate, saio gritando "Deus! Ó Deus! Onde estás
que não respondes! Em que mundo, em qu´estrela tu t´escondes..."? e dou
crédito - Castro Alves - e faço o meu religare no silêncio doído e tantas vezes choroso. Porque alegre ou triste, amor é coisa que
mais quero, que nem Adélia cantou em verso e eu, muito prosa, acho que
mereço. Se não acontece a alma pede amplitude, mundo mundo vasto mundo, Drummond deixa a pedra angular e viro
passarinho com humor deslavado, brincalhão feito a alma de Quintana ou passarão,
feito Rosa, sobrevoando sertões veredas quando a vida pede coragem.
De qualquer
forma, vou afinando meu corpo feito
instrumento acolhendo a poesia do mundo, extraindo os minérios que me
constituem, elevando a temperatura e transformando-os em amálgamas à palavra
trazida por Bartô e mineiramente sou natureza, zelando pelo ínfimo, essa matéria com a qual Manoel de
Barros tece sua poesia. Estou em constante Viagens
trazidas por Roseana Murray, Marilda Castanha e Nelson Cruz, Leo Cunha, Angela Leite, Ana Raquel, Lau
Siqueira, Affonso Romano e Marina Colasanti, Joana d’Arc, Elias José, Beatriz Myrrha, Flora
Figueiredo, Ronald Claver, Ferreira Gullar, Bashô, Martha Medeiros, Fernando
Paixão, Vinícius, Chico, Gil, Arnaldo
Antunes e tantos e tantos outros que chegam diariamente com suas asas e gestos
e sonhos e olhares ... e vão contribuindo com a nossa subjetividade humana,
ampliando nossos sentidos, alargando os horizontes, embelezando a vida. Então,
pra que serve a poesia? Pra nada. Mas, sem ela a vida não tem a menor graça, o
menor sentido.
Poesia, viva!
Heloisa Davino
Heloisa Davino
Isso é mesmo o dia da poesia, para quem sempre fala e faz todos os dias o dia. Obrigada!
ResponderExcluirA poesia é nosso pão diário, alimento necessário, né Lili?
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