Agosto sempre chega com seus temores e
sustos e ela faz questão de limpar o mês com energias mais positivas que vibram
no mesmo tom das primaveras e cortam caminho até setembro. A mãe dela não
gostava do mês de agosto e ela teve o desgosto de ver a mãe dela morrer no
último dia desse mês. Tem gente que cisma com agosto, mas hoje ela acha que
todos os meses do ano têm um jeito de contas a ajustar, de terremotos
existenciais, de vulcões internos.
É por isso que ela pede emprestado ao
leitor Pedro Marzzagão um de seus textos sobre esse mês que dá na gente uma
vontade de apagá-lo do calendário. Ou arrancar de vez as folhas de pessimismo.
"Hoje eu quero a rosa mais linda que houver...
Para lembrar Dolores, cujo nome rima com flores, vou antecipar a primavera e
florir agosto, que muitos pensam ser de tragédias, de superstições , de desgosto.
Vou florir passeios, pintar calçadas, clarear as fachadas, encantar o rosto de
quem anda absorto, atolado em sofrimento, duelando com o vento.
Vou trazer flores de maio, da canção
bonita, margaridas e girassóis, abrigo e prosperidade. Vou plantar aquela
planta, mas de tal forma planejada, que suas pétalas, ao serem desfolhadas
naquela brincadeira tão infantil, outra terminação não seja (e vale até uma
trapaça), de qualquer modo que se faça, contra o mal que se fizer, sempre o
bem-me-quer.
Burle Marx desvairado, vou florir desertos
e transformar a areia, de estéril matéria fria, uma inesgotável fonte de
energia, e espalhar oásis em terras áridas, ressuscitar as fadas, vestir de
branco as moças, e nos homens todos, prisioneiros da nostalgia, hei de plantar
poesia, para que cantem com alegria, nas noites claras de luar, para a rosa
mais linda que houver, para a primeira estrela que brilhar.
E tal como Fernando Pessoa, ao caminhar
pelas estradas, hei de olhara para um lado e para o outro, para frente e para
trás, e aquilo que verei será sempre aquilo que eu nunca tenha visto, e eu
saberei, por isto, agradecer à natureza.
Como Cecília Meireles, deixarei que meus
dedos corram pelos versos, antes tristes, agora libertos e conectados à terra,
de onde tudo vem e para onde tudo volta, e com tal certeza hei de colher
encanto, para que a minha voz antes
agressiva, se revista(sem espanto) de um suave canto.
E como se isso nas bastasse, vou convocar
todos os poetas e também alguns profetas, para que poetizem nas madrugadas,
poemas de textura enluarada, e deles farei sementes, para semear os corações,
pois se as árvores indefesas, os insensíveis arrancam do chão, um poema
guardado no peito. Ah!, isso eles não arrancam, não!
Depois da missão cumprida. Armaremos uma grande
mesa, farta de pão, vinho e poesia, para nutrir os irmãos da mais sagrada ceia,
recompensa mais que justa, que o corpo tanto anseia. E para que a alma encontre
amparo contra a angústia, o medo, a solidão, hei de clamar aos poetas um poema
único, por todos escritos a uma só mão, para que, abençoado que será, se
transforme numa única, uma única e universal oração!”
Déa Januzzi
Jornal Estado de
Minas – Caderno BEMVIVER, pg 7, domingo, 19 de agosto de 2012.
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