Ontem fui a BH para participar de uma reunião que trataria de assuntos sérios, desses que exigem introspecção e zelo. Lá fui eu, tentando, minimamente, me concentrar. Pela estrada afora, concentrar como com tanta secura do ar, árvores secas, mato seco, troncos retorcidos(pensei: será de dor?), nenhuma ave, nenhum canto, somente carros(aos montes) e imprudência aos borbotões? Como?
Mas ... sob o céu azul e em meio a essa brutalidade, vez por outra um rasgo de amarelo primaveril me fazia dizer alto e em bom tom: "Que lindo!" Um ipê em flor é um evento festivo.Não sei como alguém consegue passar desapercebido diante de tamanha beleza. Nunca entendi isso.
E nem quero entender... E lá fomos nós.
Atualmente, chegar em BH é um acontecimento.
Leva-se menos tempo de OP/BH, que do BH Shopping à Savassi.
E lá fomos nós...
Enfim, avenida do Contorno rumo ao meu destino.
E eis a surpresa:
BH está em flor primaverando em rosa e amarelo.
Não tem como não ver, não tem como não se encantar com tamanha beleza.
Em pleno canteiro central, completamente alheias ao trânsito caótico, ao ruído(não seria estampido?), ao frenesi das desconhecidas vidas que transitam de lá para cá e de cá para lá sem, ao menos dedicar um olhar terno a essa beleza que chega gratuita, as árvores se enfeitam e dão boas vindas à primavera.
Passei por elas tão rapidamente que fiquei com o gosto amargo do descaso na boca. Parei mais acima e, ao olhar para o relógio percebi que ainda tinha alguns minutos e não me fiz de rogada: voltei lá, atravessei a pista, me plantei no canteiro central e fotografei e agradeci a todas elas.
Enquanto isso, um cidadão munido de vassoura e pá recolhe as flores recém caídas no no escuro e empoeirado asfalto. Que luxo! Serão as flores um incômodo? Pensei com meus botões.
Meu Deus! Em que universo paralelo eu me encontro?
Os carros continuam seguindo seus caminhos e, no canteiro central
a festa continua ao sopro da brisa, apesar de.
Atravesso novamente a pista e me planto no passeio com os pés coloridos de amarelo e o rosa.
Penso em Cecília Meireles nos dizendo:
(...)"Tudo está
certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada
janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante
das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para
poder vê-las assim."
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