Estou P A S S A D A!
Com a tarde livre, aproveitei para dar umas voltinhas nos espaços
comerciais, ávida pelas belezas e novidades rotineiras e as tão sonhadas do final
de ano. E se o tempo é natalino, pisca-piscas tendem a fazer festa no meu
coração. Amo Natal e tudo que ele representa. Lá fui eu em cima de um salto
alto enorme e fazendo pose. Mas, caí do cavalo ou do salto, como queira! Eu
nunca vi tanto desânimo, tanta falta de graça, tanto desencanto e tamanha
ausência de beleza. O que aconteceu com a eterna magia?
Tudo bem que pertenço a outro tempo. Tempo em que se preparava com
quarenta dias de antecedência as festividades natalinas. A casa ganhava novos
ares, sentidos, encantos. Era o tempo das especiarias que nos remetiam ao
oriente, dos doces cristalizados ou em calda, das carnes embebidas em banha de
porco, das mangueiras pingando mangas docinhas, das goiabeiras... da feitura dos
biscoitos, do tempo de montar presépio; tempo de recolher da natureza elementos
que nos ajudassem a compor a beleza do momento maior; tempo de sonhar com a tão
aguardada boneca que Papai Noel certamente deixaria na janela; tempo da reunião
familiar em torno da cama de casal onde pais
e filhos se ajoelhavam rezando o terço e
pedindo paz e bênçãos para a humanidade, tempo de muita alegria. Tempo dos
sentidos e sentimentos aguçados, temperados, renovados.
Por essas e outras fiquei a pensar inconsolada: o que fizeram com a
figura central de tudo isso cujo nome é JESUS CRISTO, praticamente sumido ou,
quando muito, desbotado nas cores? Meu coração se partiu de vez...
Lembrei-me dos versos de Maria Dinorah:
Natal...
Os reis tão sós...
Os súditos tão sós...
O mundo tão só...
O universo tão só...
Que imensa solidão, meu Deus!
Andei. E por onde andei vi de um tudo – amontoados – mas, vi: do descaso
na organização à banalização da exposição e nada de convicção de que estamos
diante de “alguma” representação absolutamente especial para o mundo cristão e
que pertence ao campo do sagrado. E cá
pra nós, até mesmo o profano carece de ritual, que dirá o sagrado...
Aí alguém pode dizer: é a crise econômica mundial. E qual a relação
Jesus Cristo X crise econômica mundial? Não sou tão simplória a ponto de não perceber
os ditames da sociedade capitalista mas, a questão aqui é outra. Qual será
mesmo o destino da humanidade desumanizada? O que acontecerá com a tal
subjetividade humana? Dos valores inerentes ao humano? Da afetividade própria
entre os humanos? Jesus Cristo, socorro!
Fui pra casa pensativa.
Decidi reativar os meus sentimentos mais fundos
e acender as velas, os piscas, as lâmpadas. Decidi abrir os pacotes, caixas e
sacos de embalagens e repaginar os enfeites, tirar o pó, rebrilhar a casa, os
espaços e a alma. Decidi pedir ajuda aos anjos e arcanjos para a nova sinfonia a
ser registrada em cartões natalinos, porque ninguém merece receber e-mails frios,
digitalizados, quando se pode dedicar tempo à escrita de próprio punho a quem
se ama.
Decidi que, no espaço que me cabe, desânimo não entra; crise, nem de
idade é permitida.
A palavra é verbo e o coração é minha lei.
Que tenhamos todos um NATAL de LUZ, de CONSCIÊNCIA, de AÇÃO, de HUMANIZAÇÃO E AFETO.
Nos preparemos pois para a chegada do MENINO DEUS.
Texto de Heloisa Davino - dez/2015.
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